quarta-feira, 23 de julho de 2014

Visitante

Mais um corte enfim,
mais um fim e assim,
início de um outro pesar.

Mais uma trilha torta,
sem saber o que importa,
sem conseguir deitar.

As palavras não ditas,
agora malditas que gritam
sem cessar.
E o que ficou nas entrelinhas
é o que definha, é o que mais agride
o pensar.

Sem retorno,
sem ânimo pra recomeço,
tudo virado ao avesso,
sem prazo pra voltar.

Engolir a seco o desgosto,
tão conhecido gosto.
que sempre vem brindar.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Vício

Sair sem querer voltar,
fugir por ruas que não há,
como expurgar o ódio
que queima a própria carne?
Essa condenação que não cala,
essa mente que insiste em cair,
essa doença que persiste em agredir.
As luzes chamam, chamas negras
como sempre,
clamam em sede, você se entorpece,
se quebra nas paredes, cata os cacos,
e volta ao vômito.
Por que insistir em entrar na porta?
Por que ainda acreditar?
No final todos os livros cantam derrota.
No final sempre é você e a dor,
contorcendo imóvel
sem refúgio, sem lar.

terça-feira, 1 de julho de 2014

Bloqueios

Flui e entorna,
em um ato repentino,
Sob um chão de momento glória,
tece célebre o amargo destino

Onde os anjos choram,
o início do inferno,
onde os pesadelos moram,
onde queima o frio interno.

E o que há de novo a fazer?
Enquanto o caos resolve dançar,
Só tendo pústulas a colher,

sem motivo a trilhar.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Sangue e lodo

Me afogo em mil palavras,
me afago no abraço de folhas secas,
cavo um novo mundo, profundo,
afim de submergir.

Flutuo pra distante do sol,
feito bolha de sabão,
envolto do escuro,
me confundo num sorrir.

Savana no sangue,
vontades teleguiadas,
Invento asas, invento barbatanas,
me sinto aberração.

Cavo um buraco,
submundo, subsolo, subterrâneo,
fuga da subvida, da miséria,
da incompreensão.

Fadado,
triste manipulado,
monstrinho adestrado,
caçando teu lugar no mundo
onde há de germinar posteridade.

Rompo minha bolsa,
Arrombo meu peito,
em tal vinho não vou me deitar,
apenas me render a eternidade.

Cavo um buraco...

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Areia

Mais uma vez joelhos postados ao chão,
e apenas acumulação de pústulas.
Mais uma vez coração na bandeja
sobre uma mesa tomada por desculpas.

Sem méritos por caminhos retos,
a nobreza torna-se irrelevância,
glória enferrujada, e o silêncio ainda
como pior distância.

Por vezes acreditando nos ventos,
por vezes acreditando estar na direção,
mas em todo campo habitam-se muros,
em todo caminho há rejeição.

Sobre um chão canil,
sem doce, misericórdia, sem nada,
apenas veias carcomidas, banhadas em ácido.
Inflamadas.
E o que é delírio? O que é virtude,
vício ou doença? O que é afinal verdade, conceitos
ou crenças?

Feito um zumbi consciente da própria morte,
seguindo forçado na contra mão,
uma vida sem por que, buscando no não acaso
a própria salvação.



domingo, 23 de março de 2014

Condenação

Assim sempre chove, em dias assim,
e os olhos externam a derrota.
Puído o coração em uma gaiola suja
num campo de escuridão.
A angústia tece as linhas e passos.
Acabou-se o gosto das coisas,
o corpo forçado a seguir, entre os
zumbis e os lunáticos.
Quanto tempo ainda viver sob este cativeiro?
Quanto tempo ainda pra marchar entre os porcos?
Onde encontrar perseverança e fé?
Onde aprender a acreditar que a dor vai ir embora?


sábado, 22 de março de 2014

Entrega

Que venha o fio da navalha e faça a mostra as entranhas.
Inspiro enfim aceitando a dor, em busca de uma armadura luz,
em busca de uma força além.
Longos campos devastados, ervas secas e ossos assim.
Feito o sangue na cruz, feito o sangue dos circuncidados
no auge dos arianos.
Sementes germinando o contrário, criando espinhos maciços
para uma colheita, flores e borboletas espectrais.
Anjos que enganam, transformando açúcar em sódio,
vinho em vinagre, sorriso em lixo.
Deito um copo de sangue sobre o chão e aceito enfim as asas de Satan!!!